domingo, 16 de maio de 2010

Lágrimas Ocultas



Lágrimas Ocultas
Florbela Espanca

Se me ponho a cismar em outras eras em que ri e cantei,
em que era querida, parece-me que foi noutras esferas,
parece-me que foi numa outra vida ...

E a minha triste boca dolorida, que dantes tinha o rir
das primaveras, esbate as linhas graves e severas e
cai num abandono de esquecida!

E fico pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
o meu rosto de monja de marfim ...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


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