Às vezes existem situações que nos incomodam. Ficamos a observar os acontecimentos e analisar como mudou a sociedade, a inversão de valores. Digo isto porque gosto sempre de observar determinadas situações que acontecem nos coletivos, descasos nos hospitais, como outras incontáveis.
Este prólogo faz-me reportar ao último dia vinte e sete de setembro, o consagrado Dia Do Ancião, Dia Do Idoso. Neste dia foi realizada a Campanha: "Dê Passagem A Sabedoria", eram as faixas que líamos na frente dos transportes coletivos da cidade. Ao entrar um senhor já com seus mais de setenta anos, cedi-lhe o lugar, ele me pediu a bolsa para segurar e começou então a conversar.
Este senhor tinha vindo às cinco da manhã para uma consulta que tinha sido marcada para o dia vinte e seis, portanto, dia anterior. Naquele dia e mesma hora saíra de casa sozinho, não tinha companhia. E chegando ao hospital público a atendente lhe dissera que sua consulta teria sido marcada para o dia seguinte.
Voltou o velhinho para casa e retornou no Dia do Ancião, e num descaso, a enfermeira falou que a consulta dele tinha passado, tinha sido no dia anterior. E remarcou para o dia trinta. Custa a acreditar que ainda hoje haja tanto descaso e desrespeito pelo idoso.
Voltou o velhinho para casa e retornou no Dia do Ancião, e num descaso, a enfermeira falou que a consulta dele tinha passado, tinha sido no dia anterior. E remarcou para o dia trinta. Custa a acreditar que ainda hoje haja tanto descaso e desrespeito pelo idoso.
Perguntei-lhe então: - E o senhor ficou calado, não disse nada? Ele me respondeu com uma indagação : - Dizer o que minha filha? Disse para ele tomar consciência dos seus direitos e procurar um superior naquele hospital. Este pobre senhor descrevia sua arte de fazer cortinas artesanais e tentar ensinar aos jovens da Comunidade e exportava para a Suíça, através de uma filha que casara e mora lá com o marido.
Nesse intento pediu ajuda a um político para quem já trabalhara como cabo eleitoral durante quatro eleições. Tudo que ele queria era levantar as paredes e cobrir, pois o terreno já tinha conseguido...esforço em vão. Tenho observado também jovens que se assentam nas cadeiras do ônibus reservados aos idosos e finge dormir, enquanto eles entram e ficam de pé.
Situações comportamentais como estas e outras em que os idosos são desrespeitados tornaram-se umas constantes, e é muito triste presenciarmos. Pessoas que já contribuíram para o bem comum social trabalharam e no final da vida não possuem um teto para morar, uma assistência hospitalar digna, sem subsídios para adquirir medicamentos, na época em que mais se faz necessário, pois é quando necessariamente precisam de medicamentos de uso contínuo. Não tem sequer o que comer. E eu me pergunto o que será dos idosos do futuro? Deixo como reflexão este poema:
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Dê Passagem A Sabedoria
Mercêdes Pordeus
Hoje Sou Idoso, mas também já fui Jovem.
Dê passagem à experiência...
Dê Passagem A Sabedoria
Mercêdes Pordeus
Hoje Sou Idoso, mas também já fui Jovem.
Dê passagem à experiência...
Sinta como pode enriquecer seu viver.
Evite, de como nós, no seu futuro sofrer.
O peso das dores que já sentimos por você.
Dê passagem à sabedoria...
Dê passagem à sabedoria...
Sabedoria duramente adquirida ao longo da vida.Lembra das experiências?
Elas nos fizeram saber, saber de que nada daquilo que queríamos para você.
Você nos olha e não nos vê?
Elas nos fizeram saber, saber de que nada daquilo que queríamos para você.
Você nos olha e não nos vê?
Não vê nossas rugas?
Cada uma é uma resposta.
Resposta refletida pela gama daquelas experiências.
Cada uma é uma resposta.
Resposta refletida pela gama daquelas experiências.
Faça que olha!
Não finja que não nos está percebendo.
Você é jovem, não usufrua, dos direitos dos idosos.
Você é jovem, não usufrua, dos direitos dos idosos.
Não finja dormir, enquanto estou de pé ao seu lado.
Não vê as legendas, assentos preferências para idosos?
Não sabe que existem assentos especiais para nós?
Lembre-se que você pode ser um de nós amanhã...
Lembre-se que você pode ser um de nós amanhã...
Depois, com o avançar da idade poderá entender, que não queríamos que as marcas do tempo em seu rosto fossem tão profundas, como as que nos nossos carregamos.
Por que a sociedade, as autoridades sempre nos esquecem?
Por que a sociedade, as autoridades sempre nos esquecem?
Deixam-nos jogados ao léu, em filas e corredores dos hospitais.
Nós também contribuímos para o desenvolvimento da sociedade.
Se trabalhamos na cidade ou no campo, que diferença pode fazer?
Não é a própria sociedade que grita ser todo trabalho valoroso?
Não é a própria sociedade que grita ser todo trabalho valoroso?
Se trabalhamos nos campos colocamos o pão na mesa dos seus pais.
Nem por isso, nosso labutar deixou de ser menos dignificante.
Cultivamos e aramos a terra com tanto carinho que tudo floresceu.
Dê passagem a quem lhe pede carinho...
Dê passagem a quem lhe pede carinho...
Seja seu avô, seu pai, quaisquer idosos, um mendigo, que precisa de pão...
Mas tem uma necessidade muito maior de um afago, uma palavra, uma atitude de carinho e de amor.
Lembre-se: no futuro vai colher aquilo que você semeou.
Desejamos que seja feliz e receba de nossas mãos um legado, a experiência, resultado de muito sofrimento, muitas dorespelas quais você não precisa passar, fale conosco e aprenderá.
24.10.2005
http://www.caestamosnos.org/edicoesespeciais/De_Passagem_a_Sabedoria.html
Desejamos que seja feliz e receba de nossas mãos um legado, a experiência, resultado de muito sofrimento, muitas dorespelas quais você não precisa passar, fale conosco e aprenderá.
24.10.2005
http://www.caestamosnos.org/edicoesespeciais/De_Passagem_a_Sabedoria.html
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