Minhas entranhas
Angélica Teresa Almstadter
Angélica Teresa Almstadter
Trago dentro do corpo uma prece e um pecado...
Uma prece que me guia e um pecado que me consome...
Trago dentro de mim um templo e um altar...
Um para o recolhimento outro para encantamento...
Enquanto num chora o anjo no outro arde à chama da carne...
Sou o avesso da orgia e uma porta para a utopia...
Em mim tudo habita...
No prazer de cada gesto ou na loucura de cada movimento brusco...
Na mão pousada em repouso, pela delicadeza de um momento ou na dança dos corpos em muitos movimentos...
Entre um átomo e o universo o início e o fim de cada ato...
No fio tênue que balança num riso hilário, passeia minha pele e minha sensatez, uma porque é acesa e a outra que me mantém no fio do equilíbrio...
Uma que sustenta a linearidade e outra que desliza no fio da navalha, têmpera de igual textura, afiada na mesma forja.
Trago dentro de mim um anjo e um demônio...
Um que me segura e outro que me empurra...
Um que me segura e outro que me empurra...
Um que me mima e outro que me alucina...
Tenho dentro das minhas entranhas fel e mel, fogo e água, nem sempre na mesma proporção, mas sempre em profusão...
Nunca uma mistura, na essência que me segura, cada manifestação é pura.
Sanidade ou loucura nem pouca nem muita, doses exatas para o bom rendimento...
Diante da veia torta que explode ou diante da santidade que me agita...
E só uma que em mim grita...
A minha alma aflita...
Que nunca sabe onde se prostra, onde se encosta, se na polaridade da minha vontade ou na liberdade que o vento mostra...
Trago dentro de mim a vida e a morte...
Em doses não muito precisas...
Num talho da vida o amor jorra...
E num jorro sem norte, a ceifa colhe a sorte...
Publicado no Recanto das Letras em 30/01/2005
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