quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Porque os amores se perdem


Por que os amores se perdem
Letícia Thompson

O mais difícil de entender quando os amores acabam são os porquês. Por que duas pessoas que se encontraram e se encantaram viveram um amor que parecia indestrutível e se separam? Por que o amor geralmente acaba de um lado só e é o outro que fica chorando e querendo entender as razões?

Amores deveriam ser eternos, mas nem sempre são. Costumo comparar casais à chave e fechadura. Nem toda chave abre todas as portas é necessário encontrar aquela exata que vai se encaixar perfeitamente e, tudo será possível.

Mas a gente acredita que cada vez que alguém toca nosso coração e entra, que é definitivo. Um casal que se apaixona de início, sem que um tenha tido o tempo de desnudar o outro nas suas verdades, acredita nessa chama e até briga por ela muitas vezes.

E criam-se sonhos, planeja-se o futuro... Enquanto isso, os dias, vão passando e toma-se menos cuidado em manter a magia e a parte dos dois que é mais sonhadora começa a sentir-se incomodada.

Dá medo. Medo de ter que olhar bem nos olhos da realidade e dizer: acabou! Medo de ter que se confessar a si próprio que ainda não foi àquela vez!

Medo da solidão, de ter que recomeçar... Não são as decepções que matam o amor. Se assim fosse, não existiriam perdões e reconciliações.

O que mata o amor é simplesmente a tomada de consciência de que o outro não é o ser sonhado. É como acordar depois de um longo sono e lindos sonhos. O outro está ali, é a mesma pessoa, mas aquela neblina que dava a impressão de irrealidade, já não mais existe.

E isso não acontece da noite para o dia, como se costuma pensar. É algo que vem com os dias, os hábitos, as monotonias.

Um percebe, o outro não. Um começa a se sentir angustiado e o outro continua acreditando ou finge que acredita. E quando a gota que faz transbordar o vaso chega é o mundo todo que desmorona.

Porém, tudo não fica definitivamente perdido. Sobra de um lado à dor e os porquês, um resto de amor que teima em ficar no fundo como o vinho envelhecido na garrafa e do outro o coração dividido por não poder reparar erros cometidos e a vontade de continuar em busca de outros horizontes.

Sobram para os dois, a ternura e a lembrança dos momentos passados juntos. Por que relacionamentos cortam-se, mas não se apagam momentos, mesmo que a gente queira. Vivido é vivido, feliz ou infelizmente.

Inútil é querer resgatar um amor que resolveu partir pra outras direções. Quanto mais se apega, mais ele se afasta.

E quanto mais se afasta, mais dói no outro a incompreensão.
É uma roda da qual é difícil de sair. E é uma pena, pois os corações não merecem isso. Quando a questão é amor, não existe justo ou injusto.

Existe o que ama e o que não ama mais. Precisamos aceitar que o outro não tenha os mesmos sentimentos, mesmo se isso nos faz mal, porque se o amor não for livre para se instalar onde realmente deseja, ele perde toda a razão de ser.


2 comentários:

Unknown disse...

Um poeta dos mais sensíveis. "Porque os amores se perdem" nada fica a dever a outros grandes poetas como Affonso Romano...

Unknown disse...

Estou no computador do Scotth - mas quem fez o coomentário fui eu, Isolda, que também às vezes "cometo" alguma poesia...