domingo, 8 de abril de 2007

Limbo


António Castel-Branco

Tu que passas pelo mundo em busca
incessante e que calcorreias caminhos
perseguindo uma quimera...
Que viajas pelos sonhos procurando
alcançar e que vogas pelos mares
tentando descobrir...

Que calas num abismo o desespero cortante
e abafas num gemido toda a dor e sofrimento...

Que aos deuses do cosmos suplicas
mercês e à terra que pisas,
conforto e proteção...

Tu que entreténs a vida em autopesar
e sente revolta, ira, raiva, rancor...

Que nas dobras do tempo que aconchega
os sonhos buscas as bênçãos
que acalentam o ser...

Que no eterno instante duma chama
apagada pelo sopro da vida suspensa
no éter e buscando a semente
da felicidade, de desespero
te vais afundando...

Deixa teus pés descansar...
Liberta teu coração...
Abre a boca e faz soar o brado
mudo que te tolhe.
Abre teu ser à essência da vida que nos liberta,
pois o segredo que buscas, a meta para onde corres,
o remédio que te cura, o bálsamo que alivia...

Não está em nenhum lugar,
nem na Terra ou no Céu,
não é planta ou animal, rocha,
líquido ou um santo...

Não se encontra num ribeiro, no mar ou
num oceano, num monte ou numa
planície nem na casa de ninguém...

Reside dentro de ti, na alma
que é todo o teu ser, o que é?
Não descobriste?

É rir, é amar, é viver.
É a força que tu tens de no instante final,
quando tudo está perdido, quando
tudo é sofrimento e a esperança se foi...

Ergueres-te de novo e, por muito
que te custe, olhares a vida,
bem fundo nos olhos...
E sorrir.
Sintra,
23/03/2007.


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