domingo, 17 de junho de 2007

Texto Que Gostaria De Ter Escrito


Texto Que Gostaria De Ter Escrito
Artur da Távola

" Todas as pessoas que escrevem às vezes encontram um texto que as obriga a pensar ou a dizer: "Puxa, este é o texto que gostaria de ter escrito e outro já o fez com maior precisão e brilho. Pois se deu comigo nesta semana: Li na internet algo que me deu a vontade de ter escrito antes do autor que depois soube ser o Pastor Ricardo Gondim". Não pense o meu editor que estou “matando” trabalho.


Mas este definiu com precisão absoluta o que se passa com uma pessoa na minha idade e que já viu e viveu tanta coisa do chamado mundo externo, que o máximo que deseja é seguir no trabalho para o qual é vocacionado e na deslumbrante aventura do mundo interior. O texto de Ricardo Gondim chama-se “Tempo que Foge”, e diz o seguinte: "Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticaba".


As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.


Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.


Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".


Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe aceitar tropeços, não se encanta com triunfos, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade, exercita a espontânea sinceridade e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto delas nunca será perda de tempo".





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